Qual o impacto do estresse oxidativo em casos de covid-19?

Qual o impacto do estresse oxidativo em casos de covid-19?

O corpo humano está diariamente sujeito às agressões dos famosos radicais livres, as moléculas produzidas pelas células quando o organismo passa pela queima de oxigênio ao produzir energia. Mas, quando esse processo está em desequilíbrio, os radicais livres passam a interagir com as mais variadas células do organismo, gerando o que é conhecido como estresse oxidativo - uma condição apresentada em alto grau por pacientes com covid-19.

“Isso acontece na presença de qualquer situação em que há um elevado nível de consumo de energia nas células, o que é excessivamente exacerbado na covid-19. O acoplamento do vírus na membrana das células desencadeia uma reação que libera radicais livres de oxigênio e gera uma liberação de citocinas inflamatórias no interior da célula. É a tão falada tempestade de citocinas que ocasiona uma intensa inflamação, levando à morte celular”, esclarece o Dr. Helio Osmo, diretor médico da Zambon.

O desenvolvimento do estresse oxidativo pode dificultar a recuperação dos pacientes afetados pelo novo coronavírus, levando a uma fibrose pulmonar. Isso ocorre por causa da tempestade de citocinas citada pelo médico, que é uma superativação do sistema de defesa do corpo - as inflamassomas –, o que provoca uma inflamação sistêmica na tentativa de combater o vírus.

Nos pacientes com covid-19, o especialista explica que as complicações causadas pelo estresse oxidativo podem ser ainda maiores. “Ele desencadeia a liberação de substâncias intracelulares no pulmão que levam a um intenso prejuízo na troca de gases, levando a baixa oxigenação. Nos casos mais graves, é preciso realizar uma intubação orotraqueal para tentar reverter a situação e melhorar a oxigenação do sangue. Se houver um atendimento adequado, os acometidos podem superar essa fase, mas não impede a difusão das citocinas para o resto do organismo, levando à inflamação dos vasos (vasculites). Mais tardiamente, a pessoa pode apresentar tromboses, derrame cerebral, infarto do miocárdio ou insuficiência renal”, alerta.

Prevenção e tratamento
Todas as pessoas afetadas pela covid-19 apresentam estresse oxidativo, apesar de que em algumas o problema é mais intenso que em outras, dependendo da carga viral da infecção. Por isso, a maioria apresenta sintomas leves da doença. Entretanto, obesos, diabéticos ou quem tem outras comorbidades, além dos idosos, toleram mal a tempestade de citocinas desencadeada pelo estresse oxidativo.

Dr. Helio explica que, atualmente, estão sendo estudadas formas de oferecer ao organismo substâncias que possam proteger melhor as células dos estresse oxidativo na covid-19 e, assim, evitar ou diminuir a intensidade da inflamação intracelular e, consequentemente, a morte celular. “Todos nós temos uma substância natural nas nossas células que as protege do estresse oxidativo, é uma proteína chamada glutationa.  Estudos têm demonstrado que quando nossas células possuem um bom estoque de glutationa, as complicações do estresse oxidativo são menores. Várias pesquisas acontecem nesse momento com a estratégia de aumentar o estoque de glutationa nas células”.

Para o médico, o melhor tratamento para prevenir o estresse oxidativo é evitar ou diminuir as suas consequências, repondo a glutationa nas células do paciente. “Entretanto, não há como fornecer puramente a glutationa, uma vez que ela é instável fora da célula. É necessário suprir as células com um dos componentes na sua síntese intracelular como um aminoácido chamado cisteína, facilmente encontrado em farmácias e relativamente barato. Por ser uma precursora da glutationa, que é considerada um antioxidante natural, a cisteína é classificada como antioxidante”, explica. O medicamento não cura a doença, mas combinado com outros remédios pode atuar como importante adjuvante, evitando exacerbações, morte celular e outras complicações.

“Muitos estudos estão acontecendo nesse momento, inclusive no Brasil, em várias fases da covid-19, com o objetivo de avaliar o benefício clínico da N-acetilcisteína. Esses estudos devem ser publicados ainda esse ano. Entretanto, não podemos divulgar ainda resultados preliminares, são necessárias as conclusões finais para uma submissão definitiva para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, finaliza Dr. Helio.

Crédito da imagem: Freepik