Mais de 1,5 milhão de brasileiros sofrem de hepatites virais sem saber

Mais de 1,5 milhão de brasileiros sofrem de hepatites virais sem saber
Mais de 1,5 milhão de brasileiros foram infectados com hepatites virais, mas desconhecem ser portadores da doença, de acordo com o Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig). O fato de a condição apresentar poucos sintomas é um dos seus grandes perigos. Em 20 anos, o Ministério da Saúde (MS) realizou pouco mais de 510 mil diagnósticos de hepatites B ou C.
 
No Brasil, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus B e C, que podem levar a complicações como doença hepática crônica, cirrose hepática e câncer.
 
As hepatites virais são, na maioria das vezes, doenças de natureza silenciosa, que se caracterizam por um processo inflamatório persistente no fígado sem que o paciente apresente sintomas. Aproximadamente 60% a 85% dos casos de hepatite C se tornam crônicos e, em média, 20% evoluem para cirrose ao longo do tempo. Esse é um dos grandes desafios para o tratamento, já que aumenta a dificuldade em diagnosticar os pacientes.
 
É preciso levar informações para a população porque quando é falado para as pessoas se testarem para as hepatites virais, muitas vezes elas sentem que não estão em risco por não sentirem nada. A reflexão fica para a realidade de que todo mundo já foi exposto à alguma situação em que poderia ter sido contaminado, desde fazer as unhas até ir ao dentista. Essa necessidade se torna ainda mais crítica para pessoas acima dos 40 anos de idade.
 
Além disso, a pandemia do Covid-19 trouxe alguns agravantes para as doenças hepáticas. Um exemplo é o aumento do consumo de álcool pela população. Então, aqueles que já têm uma doença hepática vão ter um impacto desfavorável na evolução da patologia. É muito importante identificar o vírus antes que o paciente tenha uma complicação avançada como cirrose ou câncer de fígado.
 
De 2000 a 2019, 78 mil pessoas morreram no Brasil por complicações decorrentes de hepatites virais, segundo o MS. As hepatites virais B e C são as mais prevalentes e afetam 325 milhões de pessoas no mundo, causando 1,4 milhão mortes por ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que as hepatites virais são a segunda maior causa de morte entre as doenças infecciosas depois da tuberculose, tendo uma infecção nove vezes maior do que as registradas pelo vírus HIV.
 
O Brasil é um dos países que aderiu a proposta da OMS para diminuir novos casos de infecção pelo vírus da hepatite C, o HCV, em 90% e a mortalidade em 65% até 2030. "O teste é o ponto crítico, pois o maior desafio hoje no País é a identificação de indivíduos infectados em diferentes regiões, sobretudo devido à característica assintomática da infecção", afirma.
 
Sintomas comuns da doença como febre, fraqueza, mal-estar, dor abdominal, perda de apetite e olhos e pele amarelados costumam ocorrer apenas em estágios mais avançados. A população em geral, sob maior risco de infecção pelo HCV, tem pouco conhecimento sobre os riscos potenciais da doença e a baixa aderência a testagem voluntária.
 
O tratamento da hepatite C é realizado com o uso dos antivirais de ação direta, distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com duração entre oito e 12 semanas e apresenta taxas de cura de mais de 95% para a maior parte dos pacientes.

Fontes: gerente médica sênior da Gilead Sciences Brasil, Isabela Dutra; e o presidente do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), Isaac Altikes
Crédito da imagem: iStock.com/simarik