Autismo: tratamento, suporte e amor

Autismo: tratamento, suporte e amor

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que atinge mais de 70 milhões de pessoas no mundo, sendo cerca de dois milhões no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Desde 2008, a Organização das Nações Unidas (ONU) comemora o Dia Mundial da Conscientização do Autismo (02/04) para chamar a atenção de cada vez mais pessoas acerca do transtorno do espectro autista (TEA), contribuindo assim para a redução do preconceito e para proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes.

“Há dez anos, falava-se muito pouco do espectro autista e uma data como essa é importante para que esse universo se abra à sociedade. Pais chegam aos consultórios dizendo que nunca ouviram falar de autismo, e com isso entendemos que o tema é abordado, mas em um universo restrito. Em uma data mundial o assunto é ‘jogado no ventilador’ e chega a muito mais pessoas de vários lugares, que se tornam cientes dos sintomas, favorecendo o diagnóstico precoce para que as crianças que estão no espectro autista se tornem adultos felizes e independentes”, declara a Dra. Gésika Amorim, neuropsiquiatra, pediatra com ênfase em saúde mental e neurodesenvolvimento infantil, especialista no tratamento do TEA.

Uma criança é diagnosticada com autismo quando apresenta três situações clínicas marcantes: prejuízo na comunicação verbal e na socialização, além de padrões restritivos de comportamento com dificuldade na mudança da sua rotina. E isso é avaliado de acordo com a faixa etária, em uma análise feita por um profissional habilitado para esse diagnóstico, conforme explica a médica. 

“Na maioria das vezes, os pais procuram o pediatra porque já existe uma relação e um acompanhamento mais estreito. E hoje em dia uma lei da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) determina que os pediatras façam a triagem de atrasos do desenvolvimento na consulta de puericultura, e frente à detecção de qualquer atraso, encaminhem o paciente a um profissional responsável”. 

Dra. Gésika ainda destaca que não há diferentes tipos de autismo: o que existe são níveis de maior ou menor necessidade de suporte para cada criança que está dentro do espectro autista, que pode ser na comunicação, na interação, nos rituais ou nos interesses restritos. 

Tratamento, suporte e amor
A situação da pandemia colocou os pais em maior contato com os filhos dentro de casa, que passaram a observar melhor os pequenos e a detectar diferenças marcantes em seu desenvolvimento. Para a especialista, é importante que os responsáveis fiquem atentos aos sinais que podem indicar que a criança está no espectro autista. “Se o seu filho tem dois anos e não se comunica de forma eficaz, não fala, não elabora frases simples e não obedece a comandos, procure por ajuda médica para que o diagnóstico seja o mais precoce possível”. 

O tratamento do autismo é multidisciplinar. Além do médico neuropsiquiatra, envolve o trabalho de especialistas em fonoterapia, terapia ocupacional, psicoterapia, musicoterapia, psicomotricidade, ecoterapia e psicopedagogia, para identificar as áreas que o paciente precisa de maior suporte. “As terapias visam proporcionar o suporte a esses pacientes, o que a gente quer para os nossos filhos, independentemente deles estarem dentro do espectro. O tratamento existe para poder fornecer à criança toda oportunidade que ela tem para se tornar um adulto e um ser humano feliz”, garante a médica.

Mesmo com o crescente acesso à informação sobre as características do autismo, o preconceito da sociedade ainda é um dos principais problemas enfrentados pelas pessoas com TEA e também pelos seus responsáveis. Crianças e adolescentes, por exemplo, costumam ser discriminadas pela turma da escola. Já os adultos sofrem preconceito laboral de empresas que não contratam.  “Além da precariedade do suporte terapêutico adequado para o paciente na rede pública de saúde, que precisa de múltiplas terapias que não estão disponíveis em todos os lugares por meio do SUS, e esse é um problema sério”, alerta Dra. Gésika. 

Para lidar melhor com essas questões e com todas as necessidades de um filho autista, a médica aconselha que os pais conheçam cada vez mais a criança e respeitem as necessidades que ela tem como indivíduo. “Não existe um autista igual ao outro, cada um tem sua peculiaridade e precisa de suporte diferente. Conheça seu filho, os profissionais que o ajudam e pegue dicas com eles. E o mais importante, ame o seu filho, ofereça suporte e o ajude, pois ele tem um potencial enorme”, conclui. 

Crédito da imagem: KatarzynaBialasiewicz - iStock.